sábado, 4 de dezembro de 2010

- Revolução Americana: Causas e Antecedentes

Desde os finais do século XVIII (aproximadamente a partir do ano de 1770) até aos finais do século seguinte (aproximadamente 1850), verificaram-se, quer em território europeu, quer em americano, uma série de movimentos político-sociais influenciados pelas ideias liberalistas do Iluminismo. Estes denominam-se Revoluções Liberais e caracterizam-se pelo seu carácter contestatário, pelo recurso às armas e pelo facto de estabelecerem reformas institucionais, tais como:
  • O fim do regime absolutista e da sociedade estratificada;
  • A consagração dos direitos naturais do ser humano, da soberania popular e da divisão de poderes;
  • A implementação da livre iniciativa em questões económicas;
  • A libertação das nações do domínio colonial e estrangeiro.


Fig. 1 - As treze colónias inglesas
 da América do Norte.

Exemplo de um desses movimentos é a Guerra da Independência da América que ocorreu entre 1775 e 1783 nas treze colónias inglesas da América do Norte e que se caracterizou por ser um movimento cujo principal motor foi a Burguesia colonial.

Aqui encontra-se a primeira carta do colono burguês Charles, residente em Nova Iorque que relata  ao seu correspondente português os acontecimentos que levaram à rebelião dos seus compatriotas.

 Nova Iorque, 12 de Janeiro de 1768


Caro amigo,


Escrevo-lhe para o pôr a par dos recentes acontecimentos aqui na Nova Inglaterra.
Eu (e a maioria dos residentes destes territórios) estou descontentíssimo com a atitude tomada por Sua Majestade, o rei de Inglaterra.


A primeira fase das nossas discórdias residiu no término da Guerra dos Sete Anos, há cinco anos atrás. Durante este conflito, usufruímos da protecção da metrópole face às vizinhas colónias francesas e, por essa razão, estamos satisfeitos com a Coroa inglesa, que teve, inclusive, oportunidade de proceder a uma expansão dos seus territórios através da apropriação de possessões francesas (particularmente o Canadá, o vale do Oaio, a margem esquerda do rio Mississipi, algumas Antilhas, as feitorias africanas do Senegal e uma boa parte dos territórios indianos).
Assim, após o desaparecimento da concorrência francesa, vimo-nos confrontados com uma grande oportunidade de expansão para oeste, porém, o Governo londrino determinou que nenhuma nova colonização ou exploração poderá ser feita nesses territórios sem o consentimento dos povos autóctones, por recear o desencadeamento de conflitos com as nações índias.
Outra das causas que conduziu ao nosso descontentamento foi a aplicação de impostos para cobrir os elevados gastos de guerra que o Governo de Sua Majestade suportou. Deste modo, o Inglaterra impôs-nos um conjunto de taxas aduaneiras, votadas pelo Parlamento Britânico entre 1764 e 1767, que incluem impostos sobre produtos como o melaço (para produção de rum), chá, açúcar, café, têxteis, papel, vidro e chumbo, sendo que alguns destes são essenciais à economia e à subsistência dos nossos territórios. Ao mesmo tempo aplicou um imposto de selo, o '' Stamp Act'' (no ano de 1765), sobre os documentos legais e as publicações periódicas. Aqui lhe envio um selo emitido em forma de protesto por um colono, William Bradford.





Fig. 2 - Pormenor do protesto de
William Bradford.
Para que compreenda a nossa insatisfação, veja quão longe o Governo de Londres foi: aplicou a política mercantilista de exclusivo comercial e levou-a até às suas mais graves consequências! Esta consiste na obrigatoriedade de todas as mercadorias norte-americanas serem transportadas somente para a metrópole ou outras das suas colónias, enquanto os produtos europeus podem apenas ser importados através de Londres.
Contribuíram, ainda, outros factores, como por exemplo a obrigação de albergar e sustentar as tropas inglesas nos nossos territórios, facto que prejudica gravemente as nossas finanças.


As medidas que tomou o Parlamento Inglês são, a nossos olhos, um ultraje e espero que a situação se altere rapidamente. Se tal não acontecer, prevejo uma onda de protestos entre os nossos contra o Governo de Sua Majestade.


Sem nada mais de momento, despeço-me de si, caro amigo e espero receber notícias suas em breve.


Charles Carter


 - Fonte:
ROSAS, Maria Antónia Monterroso, COUTO, Célia Pinto do, O Tempo da História, 2ª parte, 1ª edição, Porto, Porto Editora

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